O fato a seguir foi extraído da Revista Saúde de maio passado, pág. 46. Em experimento conduzido no Instituto de Tecnologia de Massachusetts, Estados Unidos, foi administrado placebo a um grupo de 82 voluntários. Metade (vou chamar de grupo A) recebeu o placebo com a informação de que eram remédios que custavam 10 centavos, e a outra metade (vou chamar de grupo B) foi informada de que o remédio custava 2,50 dólares. A todos foi passada a informação de que participariam de um estudo sobre um novíssimo analgésico. O grupo que recebeu o placebo com a informação do custo de 2,50 dólares apresentou melhores resultados de analgesia que o grupo que recebeu o placebo com a informação do custo de 10 centavos. O pesquisador, Dan Ariely, assim se expressou: “a experiência de associar coisas mais baratas a má qualidade condicionou as pessoas a relacionar o preço do remédio à eficácia”. Claro que qualquer zé do boteco concorda: Esta conclusão chega a ser intuitiva de tão óbvia: “Ora doutor, qualquer um sabe que um remédio que custa vinte e cinco vezes mais é melhor!”. Analisemos esta questão.
Lembre de matéria anterior (Capturando o placebo) onde desenvolvi uma equação de captura do placebo:
Placebo = D + E + F, onde:
D = informação propriamente dita
E = concordância da informação com o resultado esperado
F = complemento da informação, responsável pelo implante da mesma no cérebro
Ou seja, como já visto:
Placebo = informação + concordância + complemento
No caso acima temos:
1. Informação: você está recebendo um remédio. Igual para os dois grupos.
2. Concordância: este remédio é um analgésico, portanto vai aliviar suas dores. Igual para os dois grupos.
3. Complemento: foi diferente para o grupo A e para o grupo B, ou seja
- Complemento para o grupo A: este remédio custa $ 0,10
- Complemento para o grupo B: este remédio custa $ 2,50 (vinte e cinco vezes mais)
Lembra também que propus darmos nota (atribuirmos valores) aos elementos D, E e F? E que o elemento D teria o valor fixo de 10? Pois bem: a informação (elemento D), sendo igual para os dois grupos, recebe o valor 10. A concordância (elemento E) também fica com o valor 10, pois igualmente é a mesma para ambos os grupos. Mas o complemento (elemento F) foi diferenciado, pelo preço, para os dois grupos. Como é que fica colocando nas equações? Claro que temos equações diferentes para cada um dos grupos do experimento. Então:
1. EQUAÇÃO DO PLACEBO PARA O GRUPO A DA EXPERIÊNCIA:
Placebo = informação + concordância + complemento, ou seja:
Placebo = 10 + 10 + 0,10 (preço do remédio em dólares) = 20,10
2. EQUAÇÃO DO PLACEBO PARA O GRUPO B DA EXPERIÊNCIA:
Placebo = informação + concordância + complemento, ou seja:
Placebo = 10 + 10 + 2,50 (preço do remédio em dólares) = 22,50
Ou seja, a nota do placebo para o grupo A foi de 20,10 pontos, enquanto a nota do placebo para o grupo B foi de 22,50 pontos. Dá para entender, matematicamente e não apenas intuitivamente, por que a melhora das dores foi maior no grupo B? Até o zé do boteco sabe que quem recebe algo valendo 22,50 está em vantagem sobre quem recebe algo de menor valor. Claro, esta é apenas uma linha de raciocínio, poderia ter seguido outra linha (multiplicando os elementos D, E e F em vez de somá-los), aí teríamos:
SEGUNDA EQUAÇÃO DO PLACEBO PARA O GRUPO A:
Placebo = D x E x F = informação x concordância x complemento, aí ficaria:
Placebo = 10 x 10 x 0,1 = 10
SEGUNDA EQUAÇÃO DO PLACEBO PARA O GRUPO B:
Placebo = D x E x F = informação x concordância x complemento, aí ficaria:
Placebo = 10 x 10 x 2,5 = 250
Isto é, o grupo B continuaria em vantagem. Ora, não lhe parece lógico, compreensível e racional, óbvio enfim, que o grupo que recebeu um remédio de valor 22,50 (na soma) ou 250 (na multiplicação) tenha melhorado mais que o grupo que recebeu um remédio de valor 22,10 (na soma) ou 10 (na multiplicação)? Ou você não pode fazer mais coisas com 250 dólares do que com 10 dólares? Ou com 22,50 em vez de 20,10? Chegamos assim ao óbvio ululante: o grupo B, que recebeu um placebo mais valorizado no conteúdo informacional, portanto melhor, só poderia obter (comprar) melhores resultados esperados (alívio das dores).
O resto é pura matemática, é só criar uma unidade, para expressar os valores encontrados, por exemplo: 250 up, 10 up, 22,50 up, 20,10 up, onde up passa a denominar a unidade-placebo. Depois é fazer avaliações nos resultados das experiências para verificar se a equação mais adequada é a soma ou a multiplicação, ou se as duas são adequadas dependendo do tipo de experiência ou do tipo de drogas em questão, ou do tipo de doenças tratadas, etc. Enfim, o resto é, como já disse, pura matemática. E as outras variáveis, que existem, não coloquei aqui porque, lembre-se, não quero complicar, só quero que você entenda, vai-se colocando-as nas equações enquanto estas são desenvolvidas.
Claro que a compreensão não é tão óbvia quanto estou colocando, ela TORNOU-SE óbvia depois que o efeito placebo foi compreendido e capturado numa equação matemática, desta forma podendo ser expresso em números. Isto, se não estou enganado, e se estou por favor me corrijam, é ciência, pois tira o placebo do campo do mistério para colocá-lo no campo da racionalidade dos números e da compreensibilidade.
“Previsivelmente Irracional”, é o nome do livro escrito por Dan Ariely onde expõe suas conclusões de anos de investigação sobre o assunto do placebo. Com todo o respeito que tenho por todos os colegas pesquisadores que arduamente (ou não) trabalham pelo bem estar da humanidade, às vezes com bastante mérito e às vezes com pouco, mas trabalham, afirmo que a questão do placebo é, como tenho tentado demonstrar, PREVISIVELMENTE RACIONAL. Claro, desde que corretamente compreendida, contextualizada e equacionada.
Só para finalizar: lembre que a equação original (ver “Remédios Funcionam?”) de onde tirei o placebo era A + B = C, estando o placebo representado pelo elemento B, informacional. A equação completa para o GRUPO A fica assim representada:
A + D + E + F = C, sendo placebo = D + E + F = 20,10 , fica:
A + 20,10 = C (usando a equação da soma), ou
A + 10 = C (usando e equação da multiplicação)
E para o GRUPO B:
A + 22,50 = C (usando a equação da soma), ou
A + 250 = C (usando a equação da multiplicação)
Percebe que se variarmos o elemento A da equação também podemos mudar o elemento C (resultado esperado)? Claro, se não fosse assim, a medicina com toda sua parafernália de instrumentos e procedimentos seria tão inócua quanto pretende, ingenuamente, que seja o placebo. Acorda medicina! Acorda e resgata os caminhos perdidos, Hipócrates merece descansar em paz! Claro, e a sociedade um atendimento melhor.
Autor: Leocádio Celso Gonçalves
Fonte: http://www.mandras.com.br