Você quer seguir o caminho normal de tornar-se um paciente geriátrico, de sentir e viver a dolorosa diminuição de suas capacidades físicas e mentais, de resignar-se a um final de existência limitado numa cadeira de balanço de algum asilo, ou pior, num leito sem poder sequer cuidar de suas próprias necessidades? Você quer entrar no clube da pele enrugada, das doenças crônicas, da baixa auto estima, da falta de vigor, da inutilidade social e perda da identidade? Enfim, você quer cruzar os limites e entrar nos territórios que conduzem ao país da inevitável decadência e declínio? Se você não quer trilhar este caminho, você tem um bom motivo para ler este texto e se preparar para ser um neófito aspirante de outros horizontes, de um porvir novo que ganha vida, se nutre e emerge de uma compreensão correta do fenômeno do envelhecimento, e que lhe coloca nos rumos do desenvelhecer.
Se você não quer seguir o caminho acima e já está engajado em empreitadas denominadas envelhecimento bem sucedido, saudável, ativo, espiritualizado ou outras que lidam com o envelhecimento como se fosse uma qualidade a ser desenvolvida (a arte de envelhecer), ainda assim, tem um bom motivo para não deixar de ler, pois estará de posse de uma ferramenta informacional importantíssima para, na pior das hipóteses, aprimorar seu trabalho. E na melhor você terá a oportunidade de enxergar um novo caminho que lhe conduzirá pelos territórios antes impensados do desenvelhecer.
1. H E R A N Ç A M A L I G N A
Ao longo dos séculos tem havido uma herança maligna que é sempre repassada às futuras gerações. Trata-se do conceito de envelhecimento como algo que paira onipresente sobre nossas cabeças, algo que sempre se sabe que está lá, sempre, em algum lugar do futuro, quieto, impassível mas implacável, nos esperando para apresentar a terrível fatura da vida. A herança deste conceito faz com que o envelhecimento assuma a forma de um algoz invisível, de um carrasco que está sempre, à espreita, em algum lugar de nosso caminho futuro. E o preço para escaparmos dele é igualmente terrível, é abandonar o caminho da usufruição da vida e morrer precocemente.
2. A R T E D E E N V E L H E C E R
Atualmente, com o aumento da longevidade das populações nos países desenvolvidos ou em desenvolvimento, vêm surgindo no mundo todo movimentos no sentido de tornar o envelhecimento uma fase da vida mais tolerável através da minimização ou retardamento de seus efeitos. Assim, o envelhecer vem sendo gradativamente alçado a uma nova categoria, vem ganhando um novo status: está surgindo até como uma obra prima desejável, já que pode trazer também a sabedoria.
Fala-se cada vez mais sobre a ”arte de envelhecer”. Estes movimentos são sem dúvida saudáveis, desejáveis e bem-vindos. Mas paralelamente outro movimento está ganhando vida e se fortalecendo cada vez mais, é o movimento de não aceitação do envelhecimento, de não adorná-lo para torná-lo mais palatável e digerível; de não lhe dar o status de uma graciosidade. Trata-se de um novo conceito que o equaciona cada vez mais com uma doença crônica terminal que deve ter suas causas compreendidas e eliminada, como qualquer outra doença.
3. N O V A V I S Ã O
Este novo conceito se manifesta numa nova visão, que é a não aceitação do embelezamento do algoz, este é reconhecido como tal e sua aceitação é substituída, nessa nova forma de ver, pela sua compreensão e eliminação. Em relação ao envelhecimento a humanidade sempre se viu num dilema: sempre o abominou e o odiou de um lado, mas sempre tem sido seu refém. Esta posição explica o movimento atual que o coloca como algo revestido de características positivas, como saudável, bem sucedido, espiritualizado e até transformado em uma nova arte que precisamos desenvolver.
Assim, não faltam movimentos principalmente nos países de primeiro mundo onde o envelhecimento é enaltecido como um estágio da vida até desejável por propiciador de oportunidades de crescimento e transformação nos quais o idoso pode se desligar, por já ter cumprido suas funções sociais de produtividade laboral e familiar, de suas obrigações mundanas e engajar-se em causas sociais e planetárias que extrapolam a órbita egóica na qual ele, normalmente, até então viveu. Ainda nos países de primeiro mundo, o que muito se vê é idosos se sentindo descompromissados com tudo que não seja seu próprio bem estar e prazeres, cuja maior preocupação é gozar do que chamam de segunda adolescência ou maturescência. Neste caso, tais quais adolescentes, eles enfatizam e priorizam a órbita egóica, sua prioridade é aproveitar a vida ociosa que a aposentadoria lhes proporciona. Não é meu objetivo, criticar e muito menos julgar aqueles que estão comprometidos com quaisquer destes tipos de enfoque do envelhecimento; se me fosse dado o poder do julgamento sem dúvida enalteceria os que se engajam em causas sociais, ecológicas e planetárias, mas sem jamais condenar os outros, pois estes, os que orbitam o próprio ego têm suas próprias e válidas razões para assim agirem. Nada disto porém me impede de ter uma visão e compreensão diferentes da questão.
4. S Í N D R O M E D E E S T O C O L M O
Ora, se você é refém de um algoz (o envelhecimento) e tem a certeza de que jamais poderá reverter esta condição, um mecanismo psicológico de defesa que lhe permite conviver bem com o inimigo é torná-lo seu ídolo, seu herói e até seu amante, é desposá-lo e amá-lo. Fica muito mais fácil conviver com o envelhecimento se você o reveste como uma realização de uma obra de arte e o dissocia de todas as mazelas que normalmente vem de carona. Aí você diz que as mazelas não fazem parte do envelhecimento, que elas não fazem parte do envelhecimento normal. Pronto, você dividiu o envelhecimento em normal e anormal. Está pronto o palco. Você pode começar a encenar o espetáculo, e aí você diz que você ama o envelhecimento e o acolhe e morre em seus braços, feliz naturalmente, porque morre nos braços de seu amante.
Este fenômeno é o que conhecemos atualmente como “Síndrome de Estocolmo”, a conhecida síndrome em que seqüestrados (vítimas) se apaixonam por seus seqüestradores (algozes). Se você sabe que será seqüestrado pelo envelhecimento, por que não começar a amá-lo quando ele se aproxima, ou até antes? Naturalmente isso não ocorre com todos os seqüestrados. Igualmente a síndrome de Estocolmo aplicada à velhice não ocorre com todos os seres humanos, e os que não são vítimas desta síndrome representam o movimento paralelo que incansavelmente tenta compreender o inimigo para finalmente exterminá-lo. Claro, você não pode derrotar um inimigo que você não compreende e não conhece, e que lhe ataca de forma silenciosa e sorrateira exaurindo suas forças gradativamente ao longo do tempo, de uma forma insidiosa que faz com que você vá se adaptando aos poucos, gradativamente, à medida que vai sugando, devagar mas implacavelmente, suas forças e sua vida.
5. I N I M I G O S O N I P R E S E N T E S
Pense numa doença que se instala abruptamente e o coloca de imediato no leito, fazendo você interromper suas atividades profissionais, sociais, familiares e recreativas. Você foi sem a menor sombra de dúvida vítima de um ataque inimigo, inimigo de você, da sua vida. Você imediatamente percebe o que aconteceu e procura ajuda especializada, procura um médico que você sabe que vai ajudá-lo no combate deste inimigo. Se o inimigo não for muito virulento você toma remédios por alguns dias e retoma suas atividades cotidianas. Quanto mais forte for o inimigo mais dificuldades você terá para retomar suas atividades, ou as retomará com algumas restrições temporárias ou permanentes.
Mas você sempre terá identificado a situação de ter sido atacado e ter que contra atacar (se tratando) para poder continuar mantendo sua qualidade de vida, ou mesmo para continuar vivendo. Neste contra ataque você pode contar com a medicina e seus recursos. O envelhecimento é um inimigo mais astuto, ele vai atacando você um pouquinho de cada vez, você não percebe, você está sendo atacado desde os seus 25 anos (ponto de envelhecimento, quando a anti entropia torna-se entropia) aproximadamente, mas normalmente você só vai perceber os efeitos do ataque entre a quinta e a sexta décadas de vida (dos 40 aos 50 anos), quando um dia se olhar no espelho e perceber seus cabelos brancos, sua pele enrugada, ou quando em suas atividades rotineiras começar a sentir cansaço, diminuição do vigor, da capacidade produtiva, da vontade e capacidade de enfrentar desafios novos. Ou quando percebe que sua aposentadoria está chegando, quando seus filhos casam, ou quando seus netos nascem.
6. OS ANOS QUE VOCÊ NÃO QUERIA TER QUE VIVER
Enfim, um dia, entre os cincoenta e sessenta anos, ou antes, você se dá conta de que ele lhe pegou ou está pegando, o inimigo até então negado ou oculto se escancara na sua frente e você só pode aceitá-lo e conviver com ele, ou conviver com ele mesmo não o aceitando e o odiando com todas suas forças. Se você não o aceita e resolve lutar, mesmo assim, apesar da luta, pouco mais lhe resta além do triste consolo do lamento da chegada dos anos que você não queria ter que viver. Aqui o seu médico não pode ajudá-lo, não porque ele não queira, mas por que ele também não sabe como exterminar este inimigo. Ele só saberá lhe ajudar a conviver melhor com o inimigo e o aconselhará a ser seu amigo para assim sofrer menos, ele é tão vítima quanto você. A síndrome de Estocolmo se transforma num consolo coletivo e institucionalizado. Na verdade os médicos são tão vítimas quanto você contra todos os inimigos: eles também infartam, também tem derrames, também ficam obesos, também têm câncer, também são alcoólatras, etc. A verdade é que a medicina, embora algumas vezes pretenda ser uma ciência e consiga pensar sê-lo, até hoje ainda carece de uma teoria da doença, e não existe ciência sem uma teoria.
7. F O N T E D A J U V E N T U D E
A visão paralela a que me referi acima, de tentar exterminar o inimigo, sempre esteve presente como um desejo que tem se expressado no imaginário coletivo dos povos desde a antiguidade. Aparece sempre e recorrentemente nas expressões mitológicas e literárias como a Fonte da Juventude. O próprio símbolo da medicina, o Caduceu de Mercúrio, traz este desejo oculto, uma vez que uma das interpretações para as duas serpentes que se entrelaçam em torno do cetro de topo alado é que elas significam a aspiração ancestral pelo rejuvenescimento, uma vez que as serpentes ao renovarem suas peles estão permanentemente rejuvenescendo (Luiz Eugênio Garcez Leme, em Tratado de Gerontologia – Matheus Papaléo Netto - segunda edição – Editora Atheneu – São Paulo – SP – 2007 – pág. 17). A humanidade sempre acalentou este sonho dourado como uma forma de compensação para a triste realidade da inexorabilidade do envelhecimento. É clássica a imagem Shakespereana da velhice: “Segunda infância e mero esquecimento – sem dentes, sem olhos, sem paladar, sem nada”. Também é clássica a imagem de Ponce de Leon e figuras mitológicas em busca da Fonte da Juventude.
8. M E I A I D A D E
Você tem mais de cincoenta e menos de sessenta anos? Se tem, faz parte de uma faixa etária chamada de “meia idade” e já deve ter feito um balanço de sua vida, onde foram consideradas suas realizações profissionais e pessoais. Se você faz parte da grande maioria, deve ser percebido e sentido que algumas coisas que você desejaria ter feito, não as fez. Isso não significa necessariamente nenhuma incapacidade ou demérito, é antes conseqüência do modo como a vida nos conduz, e é disso exatamente que se trata, somos conduzidos pela vida, nosso destino não está, pelo menos não da forma que gostaríamos ou que costumamos pensar, em nossas mãos.
9. L I V R E A R B Í T R I O
O conceito do livre-arbítrio e da liberdade são meras quimeras, sonhos que a sociedade nos vende a todo instante e de várias formas, principalmente pela mídia, muitas vezes de forma explícita e outras sem que percebamos, subliminarmente. E da mesma forma, também sem perceber, as compramos e passamos adiante. A vida moderna com seu ritmo frenético e até enlouquecedor acaba nos empurrando e nos impelindo a correr cada vez mais, e se não corrermos seremos atropelados, pois a competição é enorme e feroz, e gigantesca é a pressão consumista a que somos submetidos, e não por acaso, mas aqui já é outra questão.
10. N O S S A S C R I A N Ç A S
Nossas crianças já são geradas numa roda viva de pressões de todos os tipos e de todos os lados, nascem e já são colocadas o mais cedo possível nas escolinhas para serem socializadas ou simplesmente porque a mãe tem que trabalhar para garantir ou para ajudar no sustento da família, quando há família. E se a mãe não precisar trabalhar para o sustento terá que trabalhar para se realizar profissionalmente e conquistar seu lugar ao sol na aridez da vida mecanizada e estereotipada do mundo moderno, pois já se foi o tempo em que as mães podiam se realizar apenas na maternidade, sem sentirem culpa nem marginalização. Isto é, você tem sim, livre arbítrio, desde que o use para se encaixar nos estereótipos produzidos em massa pela sociedade mercantilista e consumista que o escraviza. E não se engane, se você quer se rebelar contra os estereótipos, acabará se encaixando em outro estereótipo, criado especialmente e sob medida para os rebeldes – não é tão fácil escapar do sistema.
11. B A L A N Ç O D E V I D A
Desta forma, mesmo quando no balanço podemos contabilizar realizações profissionais e pessoais, percebemos que estas não foram como gostaríamos que tivessem sido. E sempre identificamos desejos e metas que não puderam ser realizados ou cumpridas, num momento por falta de autonomia, noutro por falta de dinheiro, noutro por falta de tempo, noutro por falta de saúde, e assim por diante. Já reparou o quanto é difícil e raro você ter tudo isso ao mesmo tempo? Autonomia, dinheiro, tempo e saúde, tudo junto, quantas vezes você os teve? Não é o que você precisa para exercer seu livre arbítrio? Mesmo aqueles que não concordam e dizem que se consideram plenamente realizados, não são tão freqüentes mas sempre os encontramos, mesmo estes, muitas vezes, lá no fundo, sabem que não estão falando de uma verdade genuína, mas de uma verdade que gostariam que fosse verdadeira, o desejo insatisfeito se associa a distorções e racionalizações para compor a ópera do auto engano. Repito: isso não é nenhum demérito. É apenas natural que não tenhamos realizado tudo que gostaríamos, pois nossos desejos normalmente ultrapassam em muito a capacidade que nos dá a vida de realizá-los.
Sempre há obstáculos no caminho, sempre há imprevistos, sempre há os desejos de nossos companheiros que não são iguais aos nossos e muitas vezes são conflitantes e até mesmo antagônicos. E se conseguimos superar e formar grupos homogêneos para defender nosso interesse os outros também formam seus grupos e assim se vão criando grupos cada vez maiores, mas mesmo nos pequenos grupos a homogeneidade nunca é total, e a coesão do grupo por outro lado, não é permanente, perdurando apenas enquanto houver objetivos comuns a serem atingidos., e assim nossos desejos acabam sempre encontrando oposições.
12. I N I M I G O M O R
Mas, e é isso que quero enfocar, sempre há os inimigos da vida que nos sabotam e nos roubam de forma acintosa (escancarada) ou sutil, como no caso do envelhecimento, anos de vida produtiva. Este inimigo, o envelhecimento, torna-se o nosso maior e pior obstáculo, os anteriores todos, ou a quase maioria, são administráveis, este não. Aqui a administrabilidade se confunde com aceitação e convivência forçada. Normalmente concluímos achando que é simplesmente impossível, no tempo normal de uma vida, podermos cuidar de forma adequada, desejável e efetiva de todos nossos interesses, ou de todos nossos sonhos (objetivos, metas). Afinal, nos resignamos, sonhos eram apenas isso, sonhos, e tivemos que “por o pé no chão” e aceitar a dura realidade da vida, afinal esta exige pragmatismos e objetividade. Assim, após todas as considerações, por mais pontos positivos que tenhamos em nosso balanço, sempre haverão, ao lado de alguns pontos negativos, os vazios que não puderam ser preenchidos.
13. A T I V O S E P A S S I V O S
Numa linguagem contábil, já que balanço é um conceito contábil, diríamos que por maior que seja a coluna dos Ativos, sempre haverá a dos Passivos. Quais são os “passivos” da vida? Passivo na contabilidade da vida é tudo aquilo que gera despesa. Despesa é tudo aquilo que lhe é cobrado para que você possa viver (ou sobreviver) e se manter com um mínimo decente de qualidade de vida. E a moeda aqui é tempo de vida e saúde, seu tempo de vida com saúde é subtraído cada vez que lhe é apresentada uma fatura da vida na forma de doenças que são expressões em seu corpo de ataques de seus inimigos ou algozes que estão sempre à espreita. Se você é hábil nesta luta e encontra formas de driblar os inimigos que vão surgindo ao longo do caminho, de repente, na meia idade se escancara aquele que como um vampiro silencioso e invisível foi extraindo, aos poucos, seu sangue vital. E você fica frente a frente com o envelhecimento.
14. S A Ú D E (= A T I V O) X D O E N Ç A (= P A S S I V O)
Na vida nosso maior Ativo é a saúde, e nosso maior Passivo a doença. A saúde é ativo porque nos permite trabalhar e produzir e é isso que nos traz renda que nos traz qualidade de vida. A doença é passivo porque nos impede de trabalhar, ou reduz nossa produtividade ao nos roubar tempo, porque gera despesas com médicos, medicamentos, planos de saúde, outros profissionais da saúde, etc. Isso para não falar no sofrimento que inflige, não apenas a nós mas também a nossos familiares, que além do sofrimento são penalizados também com carga extra de preocupações, trabalho e estresse. Todos conhecem as dificuldades por que passam os familiares dos portadores de Alzheimer ou os familiares dos que sofreram derrames e ficaram com sequelas, para mencionar apenas duas das doenças mais comuns entre os idosos.
É portanto, a doença, um passivo altamente maléfico, sua virulência é dupla, de um lado impedindo ou atrapalhando a produção de renda, e de outro forçando a diminuição da renda porventura acumulada. Todos sabemos disso e trabalhamos muitas vezes em excesso, no afã de acumularmos riqueza para garantirmos uma minimização do sofrimento na hora que ficarmos à mercê do inimigo mor que é o envelhecimento. E quando a produção foi profícua e permitiu acúmulo considerável de patrimônio e a renda não constitui problema, ainda aqui, a fatura da doença é cobrada na forma de sofrimentos, dores e limitações de atividades, enfim, por cerceamento da livre usufruição daquilo que a vida pode agora dar. Tudo isso pode ser minimizado pelo acúmulo de riqueza material, mas não eliminado, pois os ricos também envelhecem e morrem.
15. C E N T E N Á R I O S
Por outro lado encontramos outros que são pobres materialmente falando mas que exibem uma riqueza considerável na moeda do tempo e saúde Nós os chamamos de centenários, e são eles os inspiradores dos conceitos vistos acima de envelhecimento bem sucedido, saudável, etc. Mas também eles não escapam da fatura do envelhecimento, apenas retardam o resgate final. E novamente, temos que nos resignar, não tem jeito, o que a vida nos dá com uma mão, nos tira com a outra, mais cedo ou mais tarde. Tudo isso, passando ao largo do ônus social e econômico gerado pelas doenças e pelo envelhecimento, que terá que ser carregado pelos nossos filhos e netos, que serão aqueles que terão que dar conta de uma sociedade envelhecida nas próximas décadas. Enfim, aqueles que amamos é que terão que resgatar a grande fatura que será apresentada às gerações que transportarão o mundo no século XXI. Se amamos nossos filhos e netos, vamos trabalhar para deixar-lhes um mundo melhor.
16. I N F O R M A Ç Ã O
Então, que tal se você fosse informado de que não precisa necessariamente arcar com o peso da fatura das doenças que o tempo normalmente embute com a sua passagem? Que tal se você fosse informado de que aquela doença que lhe incomoda, não importando o nome que você ou o seu médico dê a ela, na verdade, trata-se de um sintoma de envelhecimento? Que todas as doenças não são mais que manifestações de uma única doença chamada envelhecimento? Que tudo aquilo que chamamos de doenças têm um mecanismo básico comum e são formas focalizadas de envelhecimento? Sim, a verdade é que o desconhecimento do mecanismo básico e comum das doenças (a falta de uma teoria da doença) induziu a medicina ao longo do tempo a pensar que se tratavam de entidades clínicas (doenças) diferentes, quando na verdade são manifestações diferentes de uma única doença, que todos conhecemos com o nome de envelhecimento.
17. E N V E L H E C I M E N T O F O C A L I Z A D O
Este conceito, de envelhecimento focalizado, que introduzi em meu livro Desenvelhecimento (pág. 88), foi também introduzido na obra “Idade Verdadeira” de Michael F. Roizen (Editora Campus – Rio de Janeiro – 1999) quando ele se refere ao envelhecimento arterial (pág.76) e ao envelhecimento do sistema imunológico (pág.99). Ele parece ter sido restritivo em suas colocações. Este autor, por outro lado, colocou que uma vez que todas as doenças sendo formas de envelhecimento focalizado, isso permitia que entendêssemos que o que chamamos de envelhecimento é apenas a forma sistêmica, generalizada, do mesmo processo patogênico básico.
Como teremos oportunidade de ver noutro nomento, da mesma forma que a eletricidade é o fenômeno comum por trás do funcionamento de um computador, de uma geladeira, de um secador de cabelos ou uma serra elétrica, assim também o envelhecimento é o fenômeno patogênico básico por trás da doença coronariana, do diabetes, do câncer, dos derrames, da artrite reumatóide, das artroses e assim por diante. Ora, os mesmos fenômenos, a eletricidade ou o envelhecimento, se apresentarão na forma final de maneiras diferentes em função de que tipo de aparelho, mecânico (geladeira ou computador, por exemplo) ou biológico (fígado, pulmão ou cérebro, p.ex.), está na ponta final do processo. Desta forma, com a clareza desta compreensão, que veremos ainda em maiores detalhes, fica fácil entender e perceber que morrer de velhice significa tão somente ter escapado antes das formas focalizadas de envelhecimento.
18. F A T U R A S D A V I D A
Pois bem, é disso que estamos tratando. Tento mostrar a você que é possível se livrar desta fatura da vida chamada doença, ou envelhecimento. Quero lhe mostrar que esta doença tem cura, que você mesmo tendo mais de cincoenta anos cronologicamente falando, pode em termos biológicos voltar a ter 30. Sim, você pode, não importando a sua faixa etária após os cincoenta, voltar a ter o mesmo corpo físico que tinha aos 30 anos, e se você aos 30 anos já tinha alguma doença, agora pode voltar aos trinta, literalmente, e sem as doenças que tinha na época!
A isso chamo de desenvelhecer. A isso temos chamado ao longo da nossa história de encontrar a Fonte da Juventude. E se você não chegou aos 30 ... bem ... e isso você sabe muito bem, é só uma questão de tempo. E mesmo que você não esteja preocupado com estas questões, é praticamente impossível que não tenha pessoas queridas que já estão tendo que dar conta, de alguma forma, da fatura da vida que o tempo inexoravelmente cobra. E essas pessoas muitas vezes não conseguem dar conta da fatura sozinhas, precisam do auxílio dos filhos e netos. Portanto, há uma grande probabilidade de que você tenha, antes que chegue a hora da sua fatura, de ajudar seus ascendentes mais próximos, a dar conta da delas, logo, isso interessa a você independente de sua idade! Isto é, se você não é idoso nem de meia idade, com certeza é filho ou neto, ou seja, no seu barco o envelhecimento já é passageiro, queira você ou não, goste você ou não.
19. T E R O U T R A V I D A
Então, o que significa desenvelhecer? Significa ter outra vida, ganhar outra vida. Se você tem, por exemplo, 75 anos e a conta de sua fatura está lhe pesando e você acha que não aguentará pagá-la por mais que cinco ou 10 anos, por exemplo, saiba que você poderá voltar aos 30 anos, ter o corpo, a saúde e a aparência que tinha aos 30 anos! Pense no que isso significa. Você aos 30 tinha poucos anos de carreira, estava crescendo e produzindo e cheio de metas (que pode não ter cumprido), agora você tem uma nova chance, e melhorada. Porque melhorada? Por que você pode se livrar da fatura, do passivo, mas pode conservar o ativo já construído e consolidado. E ainda pode recuperar o ativo perdido, a saúde e a juventude. Pense: no que significa ter de volta os 30 anos biológicos e conservar toda a experiência, aprendizado e sabedoria acumulados durante os 75 anos! Quer algo melhor que uma segunda vida para correr atrás das metas não alcançadas durante a primeira?
Assim, querido leitor, convido-o a abrir os olhos, o coração e a mente e arregaçar as mangas, pois o sonho da Fonte da Juventude é realizável, agora! Nunca me esqueço de uma frase significativa e marcante de Simone de Beauvoir em seu clássico “A Velhice”, onde ela coloca, em 1970: “Se me dessem 100 anos de sobrevida e de saúde, eu poderia lançar-me em novos empreendimentos, partir para a conquista de campos desconhecidos” (Desenvelhecimento, pág. 25). É disso que estou falando, não importa onde você esteja na linha cronológica do tempo, pode ter 100 anos de sobrevida e de saúde, e até mais, muito mais, para dedicar-se a campos desconhecidos, para aprofundar-se em campos já conhecidos, para alinhar-se no trabalho com aqueles que almejam a paz entre os povos, para unir-se aos que querem restaurar a saúde de nossa querida Terra, ou simplesmente para continuar vivendo e desfrutar as alegrias que a saúde e a juventude caroneiam.
20. S A B E D O R I A
Seja qual for sua opção, você agora pode ter tempo para continuar se desenvolvendo e atingir a sabedoria. Sim, sabedoria, pois conhecimentos e técnicas podemos adquirir através dos estudos e treinamentos, mas a sabedoria é um fruto que só amadurece com anos e anos cronológicos de experiência, só a árvore do tempo cria, gesta e pare este fruto. Atualmente, quando atingimos um tempo de vida em que o fruto da sabedoria pode começar a amadurecer ele é ou já está impiedosamente bichado pelo envelhecimento, e podre, como todo fruto, não pode ser saboreado.
21. O F R U T O M A I S D O C E
Desenvelhecer significa poder saborear o mais doce dos frutos, e talvez por ironia da natureza, que às vezes parece brincar conosco, só o envelhecimento pode lhe propiciar este prazer, pois quando você saboreou o doce fruto da juventude lá atrás, seus pensamentos estavam focados em tantas coisas, tantos projetos, tanto estudo, tantas metas e até preocupações, que você provavelmente gastou pelo menos uma boa parte de sua juventude sem poder saboreá-la. Agora que você a perdeu, recuperá-la e degustá-la com consciência e sem as pressões do passado é de uma delícia indescritível e impalavrável, ela dá um salto e ocupa o patamar da vivência e do gozo.